quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A água gelada deixou minha pele arrepiada. Ainda não sabia o que estava fazendo ali. Uma pequena loucura talvez... nunca fui de quebrar regras. Não que eu me coloque no patamar de "pessoa certinha", só não sentia necessidade de quebrar regras. Ou talvez eu sempre tenha sido covarde demais pra isso. Não importa agora. No momento eu não estou quebrando as regras. Não exatamente. Não havia nada como uma placa indicando entrada proibida, entrada somente para alunos do curso ou qualquer coisa assim. Também não é como se eu tivesse entrado pela porta da frente ao invés de ter me esgueirado pela porta dos fundos. Ri da situação.  

Eu deveria estar assistindo uma palestra sobre algum tema aleatório e no meu ver bem desinteressante, mas que poderia me ser útil no futuro. Ao invés disso estou escondida, sentada a beira da piscina dos alunos de fisioterapia. Sim, na faculdade. A noite. E como sempre é claro, sozinha. Mas o que eu estava fazendo aqui? Eu poderia ter ido embora.  Eu poderia estar no pátio observando os garotos bonitos de educação física. Eu poderia estar lá fora fumando. Ou só lendo um livro mesmo. Mas aqui estou eu. Molhando meus pés nessa água gelada. Talvez eu só seja um tanto idiota. Ou muito idiota. Sei lá. De repente me surgiu uma ideia. Uma loucura. Olhei em volta e não havia nada, pelo corredor escuro nem sinal de alguma pessoa.  

Me levantei e tirei a saia, depois a blusa. Ponderei sobre minha roupa íntima. Quer saber? Dane-se. Tirei e entrei calmamente na água até estar toda submersa. Abri os olhos e não enxerguei nada, é claro, estava escuro. Eu não era boa nadadora, mas a piscina não era tão funda assim. Submergi quando o ar me faltou. Ouvi um baque e me assustei. Ao olhar em direção do barulho vi uma luz fraca vindo da porta por onde entrei. Ah não. Haviam me trancado aqui dentro. E agora? Me desesperei enquanto me escondia completamente dentro da água. Se eu saísse agora podiam me pegar aqui dentro. Tentei pensar numa rota de fuga. E agora? Tinha uma janela ao lado do vestiário, dava pra sair por lá. Isso é claro se eu fosse mais magra. Malditas janelas pequenas. E agora? Senti uma sensação estranha. Precisava pegar mais ar, mas essa sensação... fiquei o máximo que pude lá dentro, até que não aguentasse mais. Me levantei rapidamente espalhando água em volta e dando de cara com um par de pernas. Oops. Acho que fui pega. Fiquei calada, sem reação, só olhando pro cara na minha frente. Tava meio escuro por conta da luz apagada então não vi muito bem o rosto dele. Eu devia estar fazendo uma cara ridiculamente hilária, pois ele começou a rir enquanto me olhava. Minha reação foi fazer uma cara feia, provavelmente o que fez ele se tocar.

"Desculpe, não sabia que o lugar já estava ocupado".

"Bom, não é como se eu devesse estar aqui mesmo".

"Isso é verdade. Agora o que uma garota está fazendo sozinha em plena sexta-feira, nessa piscina? Achei que só casais que quisessem se pegar vinham pra cá".

"Era essa a sua intenção?"

"Eu não estou acompanhado, estou?" sorriu "Aliás, você está aí... eu aqui... "

"O que? Não! Tá doido?" Falei colocando os braços sobre meus seios. Isso fez ele rir.

"Calma garota, não vou fazer nada com você. Porém você está fazendo exatamente o que eu queria estar fazendo, e a piscina é bem grande não? E é claro, você não manda em mim. Sendo assim", ele disse enquanto tirava sua blusa, "vou entrar também".  

Eu não tive reação nenhuma enquanto ele se despia na minha frente, sem pudor algum. Também é claro, estava escuro o suficiente para que eu pudesse ver apenas seu contorno. Desviei os olhos dele quando percebi que tentava ver mais do que devia e logo me lembrei de uma cena do filme Mulan, quando ela vai tomar banho e acaba sendo interrompida pelos amigos. Saco. Ele entrou calmamente na água, parecia que era pra me irritar.

"Então, vai ficar com essa cara azeda o tempo todo? Se tá incomodada, sabe o que dizem sobre isso...".

"Ah, como se eu fosse sair. Eu cheguei primeiro ok?" Com a proximidade dele na piscina, pude ver melhor seus traços. Ele era bonito. Muito bonito, na verdade. Cabelo cacheado, olhos bem escuros. Mas no escuro, o que parece claro? Ficamos nos encarando por um tempo, até ele mergulhar de maneira expansiva, espalhando água por toda sua volta, me molhando ainda mais. Minha reação foi ir para o lado contrário, chegando na borda da piscina, e por lá fiquei, apenas aproveitando o momento calmo, esquecendo da indesejada companhia. Distraída como estava, só percebi a aproximação quando ele já estava a menos de um metro de distância.

"Você ainda não me disse o que está fazendo aqui à essa hora, sozinha..."

"É o único horário sem funcionários espreitando".
"E?"
"E nada oras. Só queria vim aqui um pouco, não posso?"

"Na verdade não. Nem eu posso. Mas acho que isso não faz diferença pra gente, hm? No entanto.. é bem provável que assim como eu, você deveria estar tendo aula..." A cada palavra ele se aproximava um pouco mais. Nós dois ali, sozinhos numa piscina, sem roupas, próximos daquele jeito... fiquei tensa com os pensamentos que invadiram minha mente. Me encostei mais a borda da piscina e ele pareceu perceber, pois deu uma pequena risada. Corei imediatamente.

"Pode relaxar. Não vou fazer nada... que você não queira", completou rindo.

"Rá rá, muito engraçado, idiota!" Exclamei jogando água nele. Ele apenas me olhou com cara de indignado.

"Ah, é assim?" Então começou tudo. Ele jogou água em mim e eu joguei mais água nele. Aquilo virou uma verdadeira guerra de água, e por um momento parecíamos crianças, apenas nos divertindo. De repente ouvimos um barulho acima de nossas risadas e paramos, ficando quietos, em completo silêncio. Ficamos assim por um tempo, lado a lado, apenas ouvindo, porém o único barulho que ouvíamos eram o de carros chegando ao estacionamento ao lado. Olhamos um para o outro e voltamos a rir. De que? Nada. Apenas ríamos.

Então a risada foi parando, e voltamos a nos encarar. Estávamos muito próximos. Diria até que próximos até demais para minha mente fértil começar a trabalhar livremente. Droga, ele era muito bonito. Nós dois sozinhos e nus naquele lugar... não mesmo. Comecei a me afastar dele, indo em direção a escada para que pudesse sair de lá.  

"Então agora você resolveu sair?" Não me virei para ver sua expressão enquanto falava isso, mas percebi um leve tom de decepção em sua voz.

"Eu tenho que ir. Fique a vontade, só não demore muito pra sair, eles podem te trancar aqui a qualquer momento", falei pegando minhas roupas que estavam jogadas ao chão, próximas à piscina.

"Duvido muito, a saída de emergência está sempre aberta". Enquanto ele falava eu me dirigia a um dos vestiários, pensando em pegar os papeis destinados a secar as mãos para secar meu corpo. "Você quem sabe", falei.

Se secar com papel é horrível, mas consegui dar um jeito, pelo menos o suficiente para não ficar com a roupa molhada. Agora o cabelo... bem, ter cabelo liso viria bem a calhar agora. Pena que não pensei nisso antes de entrar na água. Revirei minha pequena mochila até encontrar algo para poder prender o cabelo, e lhe fiz um rabo de cavalo. Ia servir por enquanto. Pendurei a mochila em um dos ombros e saí do vestiário, surpresa ao ver que a piscina estava vazia.  

"Resolvi seguir seu conselho", olhei para o lado e lá se encontrava ele, encostado na parede ao lado da porta por onde eu havia acabado de sair. "Então..." ele se aproximou, "eu ainda não sei o seu nome".

"E nem eu o seu".

"Verdade. Benjamim".

"Celina".

"Belo nome".

"Obrigada", ao dizer isso, desviei dele, que estava na minha frente e comecei a andar em direção a saída.

"Ei Celina, espera!"

"O que foi?", me virei em sua direção, e levei um susto com sua proximidade. Ele estava há apenas alguns poucos centímetros de distância. Percebi pela primeira vez o quão alto ele era, pelo menos uns vinte centímetros a mais que eu.

"Bom, eu tava pensando e, não sei... talvez a gente possa repetir isso algum dia", ele tinha um sorriso bonito também. E seus olhos, definitivamente eram bem escuros. De repente me senti um pouco envergonhada. Repetir algum dia? Isso era o que eu tava pensando que era? Ri com o pensamento.

"É, talvez". Senti meu celular vibrar no bolso da minha calça e o peguei. Droga, estava atrasada. "Eu realmente tenho que ir", falei enquanto guardava o celular. Olhei para ele mais uma vez, enquanto um pensamento passava por minha cabeça. Talvez eu não o veja de novo mesmo... quer dizer, se durante todo o semestre não o vi antes, quais as chances de me encontrar com ele novamente tão cedo? Talvez esqueçamos um do outro em alguns dias, e essa faculdade é realmente grande. Então eu simplesmente o fiz. Eu já havia dito a mim mesma que me arriscaria um pouco mais, então, porque não?

Eu o beijei.

Num segundo minhas mãos alcançavam seus ombros, e no outro nossos lábios se tocavam. Ele ficou sem reação no início, mas logo passou os braços pela minha cintura, e devolveu o beijo com a mesma intensidade que eu. E por um momento era isso. Apenas eu e ele. Celina e Benjamim. Dois estranhos se beijando. E a familiaridade da situação me atingiu em cheio. Dois estranhos se beijando... Então meu celular voltou a vibrar, me trazendo de volta a realidade, fazendo com que eu me separasse dele.  

"Tchau Benjamim", comecei a andar rápido em direção a saída, antes que ele próprio tivesse tempo de pensar no que tinha acabado de acontecer. Apenas quando estava passando pela porta pude ouvi-lo respondendo.

"Tchau... Celina".

terça-feira, 6 de março de 2012

Snow Kiss.

Foi um beijo gelado. Tinha certeza de que seria você o ser que me faria feliz. De que você poderia me fazer feliz. Lutei contra tudo e todos para te ter, e quando isso aconteceu não fui capaz de sentir nada. Foi um beijo gelado.

domingo, 13 de novembro de 2011

Wind.

Cultive sua fome antes de idealizar
Motive sua raiva, faça tudo se realizar
Escale a montanha, nunca descendo
Descanse satisfeito, nunca caindo

Não tente parecer tão esperto
Não chore porque você está tão certo
Não vá com falsidade ou medo
Porque você irá se odiar no fim

Akeboshi.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Point of view


Não canso de me perguntar isso. Será? Será que eu te fiz feliz?
Sei que foi você que acabou com tudo, mas todo o tempo que passamos juntos significou muito para mim. Espero que também tenha significado para você. Agora eu estou chorando um oceano e não sei se é por estar lembrando do seu sorriso e de como ele é contagiante, ou de como seus olhos brilhavam cada vez que eu dizia que te amava. Mas é claro, eu também me lembro de cada vez que você dizia que também me amava. Às vezes acho que não passava de uma mentira.
Porra, eu jurei que faria o meu melhor pra mudar, mas você disse que não se importava. Que realmente não se importava! Agora eu olho o céu e por mais que ele esteja azul e lindo, eu vejo tudo cinza, tudo triste.
Pensando nos seus defeitos e qualidades, percebo que você não era aquilo que eu pensava, que eu só via o que eu queria ver. Percebo o quanto eu fui cega. E sim, estou te olhando de um outro, um novo modo. De outro ponto de vista. Cara, porque diabos fui me apaixonar por você? Por quê? Me diga, porque eu realmente não sei. E sinceramente, não desejo esse sentimento nem para o meu pior inimigo. Não mesmo!
Que saber de uma coisa?! Estou bem melhor sem você! Então é melhor você ficar onde está, porque não vou me arrastar aos seus pés como sempre faço. Como você adora que eu faço. Sim, eu ainda te amo, mas também sei que você não me ama. Que eu sou apenas uma distração idiota, que você sempre vai atrás de outras quando não estou. E cansei!
Você disse que não se importava, e realmente não se importou! Nunca se importou.

terça-feira, 28 de junho de 2011

A festa dos seu quinze anos...

A música era alta, todos dançavam, riam, se divertiam. Já eu só sentado em uma mesa qualquer, jogando conversa fora com um amigo.
Mas ela estava tão linda, perfeita com aquele vestido, como uma princesa. Dançara com varias pessoas, não conhecia metade delas. Reconheci apenas seu pai e irmão, com quem dançara a valsa.
Resolvi dançar um pouco. Não que eu seja um bom dançarino, mas dá pra enganar. Então começou a tocar sertanejo e logo vários casais começaram a se formar, o que não ajudou muito. Acho que vou tomar um ar.
Enquanto andava em direção a uma das enormes portas do salão fui olhando em volta, mas não a vi em lugar algum. Deve estar junto à grande aglomeração de pessoas, dançando com mais um desconhecido meu.
Sentei em um banquinho, tipo aqueles de pracinha, embaixo de uma arvore. Estava um clima razoavelmente agradável, um céu bem estrelado e a lua cheia brilhava lindamente.
Francamente, nem sei o que estou fazendo aqui. Por que eu vim mesmo? Ah sim, porque era a festa de aniversário de minha amada. 15 anos. E só de vê-la aparecer com aquele sorriso radiante valeu a pena.
De repente ouvi um soluço, baixo e contido. Alguém andou chorando. Quando me virei para ir embora, quase tropecei e acabei fazendo barulho. Ouvi então uma vozinha manhosa:
- Quem está aí? Pedro é você?
- Hm, sou eu sim.
Percebi que era ela quem estava falando comigo. Fora ela quem estava chorando. Ela saiu de trás da pequena planta onde se encontrava escondida.
- É... e-eu não... é que... hm...
- Não precisa se explicar.
- É embaraçoso.
- Eu sei. Você não quer voltar lá pra dentro?
- Não, eu prefiro ficar aqui fora.
- Quer que eu fique com você? Quer dizer, isso se quiser companhia...
- Sim eu quero, pode ficar - Disse com um pequeno sorriso.
Nos sentamos no mesmo banquinho. Queria saber por que ela estivera chorando, sendo que a tão pouco tempo parecia tão feliz. Olhei para a garota que agora olhava atentamente a lua. Parecia. Acho que fingir estar feliz foi algo que ela fez a noite toda. Oh, como queria abraçar aquele ser e lhe tirar todas as dores que ali se encontravam. Segurei na mão dela, então ela me olhou.
Havia uma certa confusão em seus belos olhos chocolate. Então me levantei e lhe estendi a outra mão. Ela se levantou e a pegou. Então coloquei uma de suas mãos em meu ombro e segurei sua cintura.
Começamos a dançar lentamente, ignorando a música agitada. E embora tivessemos dançado por pouco tempo, a mim pareceram horas. Era como se tivéssemos dançado a noite inteira. É, valsamos a noite toda.

"E a valsa nós dançamos ao luar
nós dançamos ao luar
nós dançamos ao luar..."

domingo, 26 de junho de 2011

P.S. : Eu te amo

Querido cretino,

      Sabe quando se é pequeno, criança, e pensa em quando for mais velho? E pensa em como seria bom viver um grande amor? Eu não fugia a regra. Eu era assim também, mesmo depois da infância. Mas sempre tive o cuidado de não demonstrar. Nunca quis ser mais uma daquelas garotas frágeis que uma hora ou outra são deixadas de lado. 
      Até que te conheci. Era tudo tão perfeito, e meu mundo ficou ficou mais colorido, mais rico, mais lindo. Achei que finalmente poderia viver um amor como aqueles em que se via em livros, filmes. Só com o que sentia por você achei que poderia destruir o mundo, governar exércitos, eu até poderia derreter geleiras polares sabia? Só pra demonstrar o que sinto por você. Quando descobri que talvez fosse correspondida achei que explodiria de felicidade. De repente minha vida ficou perfeita e achei que ninguém poderia estragá-la. Ninguém exceto você, não é? 
     Porque foi você quem acabou com ela. Era tudo sobre você. Minha vida era você. E você conseguiu acabar com tudo ao dizer que não me queria, que era apenas diversão. 
      Foi bom brincar comigo?
     Você me deixou, e meus sonhos e esperanças acabaram sendo jogados ao vento. Agora eu te odeio, mas também te amo. Isso é confuso, porque não sei exatamente o que sinto. Toda vez que te vejo minhas pernas ficam bambas e tenho vontade de te bater, quando ouço sua voz sinto calafrios e tristeza , quando te vejo com outra garota sinto tanto ciumes e tanto ódio. Mas acima de tudo, sempre que penso em você, sinto pena. Pena por saber que você é uma criatura tão insensível, pena por saber que não fui a primeira e nem a última a cair nos seus braços pra depois ser chutada, pena por saber que você não se arrepende e pena por saber que quando se arrepender será tarde demais, e quem estará sofrendo de amor será você.
     Sempre achei tolas aquelas mulheres que faziam loucuras quando eram deixadas e agora as entendo. Agora também percebo uma porção de coisas que antes era incapaz de perceber. Sempre foi um erro estar com você, mas sabe como dizem, aprendemos melhor com nossos erros do que com acertos. Por isso não mudaria nada no passado. Faria tudo de novo se pudesse. Posso estar na fossa agora, mas os momentos que passei com você foram os melhores da minha vida, e isso só pela sua presença. Droga! Não consigo te odiar por mais que eu queira. Me sinto inútil. Uma idiota frágil e sem saber o que fazer. Como as garotas que tanto desprezava. Irônico. 
     Sei provavelmente que nem chegue a ler isso. Estará com certeza mais ocupado 'catando' alguma guria, que cairá na lábia do Sr. Cafajeste e depois irá se lamentar eternamente por isso. Mas precisava de um jeito, desabafar simplesmente. E a melhor opção que encontrei foi escrevendo uma carta a você.

Com toda a minha angustia,
Seu amor.